<$BlogRSDUrl$>

terça-feira, junho 22, 2004

UM ANO DEPOIS

A Carolina encontrou-se com o Diogo numa paragem de autocarros, ao fim da tarde de um dia chuvoso, em que as folhas das árvores se confundiam com as enormes gotas de chuva que lhes batiam na cara. Foi ali que combinaram por, à semelhança de há um ano atrás, terem lá começado qualquer coisa que durou este tempo todo, por causa de um simples beijo que resultou de uma troca de olhares dentro do autocarro à vinda do liceu. A Carolina trazia a mesma camisola verde riscada com que se apresentou no mesmo dia de há um ano, e o Diogo, não encontrando a mesma camisa xadrez, vestiu o pólo que tinha recebido nos anos, pelas mãos da Carolina. Ambos traziam nas mãos um embrulho com cartas escritas a lápis, dobradas e impregnadas com carinho e amor durante um ano inteiro de alegrias vividas. Ambos traziam nas mesmas mãos, junto ao maço de envelopes, uma flor que juraram nunca devolver. A Carolina tinha no bolso, além de uma fotografia dos dois, um lenço de papel sujo e amarrotado com que ia limpando, uma a uma, cada lágrima que lhe escorria pela face. O Diogo segurava com a ponta dos dedos uma carteira cinzenta onde guardou todos os recados e bilhetes secretos recebidos durante as aulas.
Tinha sido este, o combinado: o mesmo dia, a mesma hora, a mesma roupa, os objectos especiais que cada um queria ver recuperados.
Mas os olhos de um espelhados nos do outro, os sorrisos incontidos molhados em lágrimas, o bater desenfreado dos corações e as mãos tocando uma na outra deram novo rumo à história.
E o fim acabou por não ser o esperado.



quinta-feira, junho 10, 2004

A CARTA

Guardo comigo a carta que escrevi no dia em que partiste. Sabe sempre a pouco, mas continua a fazer-me companhia naqueles dias em que não quero mais do que uma simples lembrança tua, um simples cheiro daquilo que havia entre nós antes desse dia tão triste, uma coisa qualquer que me deixe sentir o que não consigo sem ti.
Nos dias em que a falta que me fazes é tanta que quase não aguento, abro a caixa que me deste e leio as palavras, uma por uma, da folha onde pus tudo o que era vivo em mim por tua causa. Na folha onde, dia a dia, foste preenchendo linhas com todo o amor que se via quando, ao fundo da rua, eu te via chegar, de mala ao ombro e óculos presos por esse lindo cabelo, enquanto a rua não encolhia para te deixar chegar a mim.
Ainda hoje guardo a folha, dentro de uma caixa de madeira azul que me deste para guardar uma pétala de cada flor que te oferecia, como se fosse possível enchê-la de amor, carinho e beijos na forma de pétalas, tão bonitas e cheirosas que mais parecias tu trancada num espaço daqueles, guardada no íntimo do meu quarto, para quando a saudade apertasse eu a pudesse abrir e sentir-te perto de mim. Cheguei a pôr lá aquela tua fotografia junto ao mar, de vestido comprido, do dia em que pedi o primeiro beijo.
Ainda hoje uso a caixa para lá deixar cair as lágrimas que não consigo conter por pensar em ti, e guardo a folha húmida, dobrada, semi-rasgada e amarrotada, e manchada pelo choro que não sei evitar à conta de tanto pensar em ti.
Ou talvez soubesse. Mas tu não estás aqui.



This page is powered by Blogger. Isn't yours?